Às exploradas, maltratadas e mal-amadas professoras do meu país
Ainda a noite vai plena
Na celeste imensidão
E lá vai a Madalena
De pasta negra na mão
Leva nos lábios o sol
Ao acordar da manhã
E nos olhos de avelã
Sorriso de girassol
Madalena é professor
aEla ama a profissão
E lá vai a Madalena
Para a escola milagrar
Tem uma larga centena
De centelhas a avivar
Aninha sob o seu manto
Uma secreta ilusão
No imaginoso encanto
De um canto de Gedeão
Madalena é professora
Ela ama a profissão
E Madalena contrasta
Com o resto da multidão
Leva um ventre na pasta
Já gasta na sua mão
Uma réstia de esperança
Que o seu génio pintou
No sonho de uma criança
Que a criança nem sonhou
Madalena é professora
Ela ama a profissão
À tarde vem Madalena
Macerada e insegura
Traz máscara de tristura
No rosto estanhado em pena
Sombrio momo da alma
O belo corpo curvado
A passo descompassado
É grito na tarde calma.
Madalena é professora
Ela ama a profissão
E Madalena lá vai
Dolente e amargurada
Na lenta noite que cai
Na sua vida arrastada
Para casa lá vai ela
De pasta preta na mão
Dar-se mãe fazer-se bela
Donzela de servidão
Madalena é professora
Ela ama a profissão
E quando a lua dormente
Vai vagueando no vão
No trilho do ferro quente
Ela relê diligente
Os versos de Gedeão
E em cada peça passada
Que passa maquinalmente
Vai passando lentamente
A sua alma engelhada
Madalena é professora
Ela ama a profissão
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