CONDOR
Quando a ventania te fustiga
E a voz do trovão te abalroa;
Quando as vagas te batem na proa
E a tempestade não se mitiga,
Porque temes a fúria inimiga,
Porque te encolhes, professor,
Se possuis nas nervuras da mão
A força bruta de um tufão?
Quando vês a seara ameaçada
Pela pulha praga predadora,
E a tua lide geradora
Se agiganta multiplicada,
Porque choras na eira estragada
Porque te conformas, professor,
Se possuis nas nervuras da mão
A energia que brota do chão?
Quando o labor do teu longo dia
Se confunde com a noite escura,
E a cava voz da conjuntura
Te acusa de ócio e de abulia,
Porque atrofias a rebeldia,
Porque consentes, ó professor,
Se possuis nas nervuras da mão
A seiva da nova geração!
Tu, que trazes cavadas no peito
As fundas chagas da humilhação,
Porque aceitas essa condição?
Porque choras o trilho desfeito
E te anulas num nicho sem preito?
Porque te curvas, ó professor,
Se possuis nas nervuras da mão
O tal respeito que te não dão?
Porque receias, ó professor,
Ser livre e voar como um condor?
Luís Costa
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