Faz de Conta
Faz de conta que sou abelha
Eu serei a flor mais bela.
Faz de conta que sou cardo
Eu serei somente orvalho.
Faz de conta que sou potro
Eu serei sombra em Agosto.
Faz de conta que sou choupo
Eu serei pássaro louco.
Pássaro voando e voando
Sobre ti vezes sem conta.
Faz de conta, faz de conta.
(Aquela Nuvem e Outras)
sábado, 31 de maio de 2008
Adivinha - Eugénio de Andrade
Não é galo nem galão
Nem padre nem sacristão
É um animal esquisito
Entre peru e pavão,
Tem barbas ruivas de milho
Tem olhos de crocodilo,
Rabo de gato ou de cão,
Ão ão, ão!
(Aquela nuvem e Outras)
Nem padre nem sacristão
É um animal esquisito
Entre peru e pavão,
Tem barbas ruivas de milho
Tem olhos de crocodilo,
Rabo de gato ou de cão,
Ão ão, ão!
(Aquela nuvem e Outras)
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Soneto de Fernando Pinheiro a Nelson Mandela
Um raio feriu a pele das trevas
e uma gota de sangue no corpo
do escravo caiu até à terra
ficando a germinar nesse ponto.
Árvore do pensamento os negros
chamarama essa força vital
a lançar do interior da cela
ideias como sementes aladas.
Como um sonho cresceu a floresta
encheu-se de cor o branco deserto
e outra vida ganhou a cidade.
Todo o povo cumpre o seu destino
esteja preso ou escravizado
que uma luz condu-lo p'lo caminho.
Elisabete Macedo T2
e uma gota de sangue no corpo
do escravo caiu até à terra
ficando a germinar nesse ponto.
Árvore do pensamento os negros
chamarama essa força vital
a lançar do interior da cela
ideias como sementes aladas.
Como um sonho cresceu a floresta
encheu-se de cor o branco deserto
e outra vida ganhou a cidade.
Todo o povo cumpre o seu destino
esteja preso ou escravizado
que uma luz condu-lo p'lo caminho.
Elisabete Macedo T2
Soneto de Fernando Pinheiro a Madre Teresa de Calcutá
Na mão direita a frugal vitualha
na esquerda as contas do rosário
de sandálias de romeiro ia
ao encontro do mendigo solitário.
Por casas, albergues e gafarias
andava o pelicano voando
pelas ruas pobres de Calcutá
seu peito rasgando aos famintos.
Uma multidão transida de frio
teve em suas asas o conforto
e bebeu o perdão da sua voz.
Não sei qual era a sua divisa
mas talvez amor omnia vincit
que era a mesma de meus avós.
Elisabete Macedo T2
na esquerda as contas do rosário
de sandálias de romeiro ia
ao encontro do mendigo solitário.
Por casas, albergues e gafarias
andava o pelicano voando
pelas ruas pobres de Calcutá
seu peito rasgando aos famintos.
Uma multidão transida de frio
teve em suas asas o conforto
e bebeu o perdão da sua voz.
Não sei qual era a sua divisa
mas talvez amor omnia vincit
que era a mesma de meus avós.
Elisabete Macedo T2
Soneto de Fernando Pinheiro a Elis Regina
Allô, allô, marciano, que é
da nossa cantora da asa branca
e do sol que trazia na garganta
p'ra tocar o coração de Madalena?
Foi-se a voz que se fez riso e pranto
e aguarela de tons tropicais
fantasia, abraços, romances
sinfonia de ilusões e ais.
Regina da terra sentimental
devota da Senhora da Aparecida
faz como o neguinho na estrada.
(Virgem Maria que coisa mais linda)
caminha para lá e para cá
sobre o fio da morte e da vida.
Elisabete Macedo T2
da nossa cantora da asa branca
e do sol que trazia na garganta
p'ra tocar o coração de Madalena?
Foi-se a voz que se fez riso e pranto
e aguarela de tons tropicais
fantasia, abraços, romances
sinfonia de ilusões e ais.
Regina da terra sentimental
devota da Senhora da Aparecida
faz como o neguinho na estrada.
(Virgem Maria que coisa mais linda)
caminha para lá e para cá
sobre o fio da morte e da vida.
Elisabete Macedo T2
Soneto de Fernando Pinheiro a José Afonso
Todas as manhãs subo ao mirante
e abro o portal que dá para o mundo:
vejo terra, céu e o sol fulgurante
mas não vejo cantor vagabundo.
Ele subia com seu violão
as avenidas dos bairros humildes
juntava putos sentados no chão:
todos comiam da voz peregrina.
Ia depois embora o andarilho
de coração em coração saltando
como qualquer nómada sem destino.
Mas em cada lugar onde cantava
uma tecedeira ficava urdindo
a rubra bandeira da liberdade.
Elisabete Macedo T2
e abro o portal que dá para o mundo:
vejo terra, céu e o sol fulgurante
mas não vejo cantor vagabundo.
Ele subia com seu violão
as avenidas dos bairros humildes
juntava putos sentados no chão:
todos comiam da voz peregrina.
Ia depois embora o andarilho
de coração em coração saltando
como qualquer nómada sem destino.
Mas em cada lugar onde cantava
uma tecedeira ficava urdindo
a rubra bandeira da liberdade.
Elisabete Macedo T2
Soneto de Fernando Pinheiro a Amália
Anda uma luz a vaguear na praia
tangida pela brisa do destino
carrega consigo a terna alfaia
com que a dor se tange no feminino.
Trina a guitarra no colina velha
da cidade que inventou a fado
E a voz que se ouve nas vielas
é o eterno canto da saudade.
Soluçam marinheiros e varinas
doces cantigas com sabor a sal
tecidas com espuma e feitiço.
São tormentos, suspiros, também lágrimas
são lamentos, desenganos e mentiras
que os amantes espalham na alma.
Elisabete Macedo T2
tangida pela brisa do destino
carrega consigo a terna alfaia
com que a dor se tange no feminino.
Trina a guitarra no colina velha
da cidade que inventou a fado
E a voz que se ouve nas vielas
é o eterno canto da saudade.
Soluçam marinheiros e varinas
doces cantigas com sabor a sal
tecidas com espuma e feitiço.
São tormentos, suspiros, também lágrimas
são lamentos, desenganos e mentiras
que os amantes espalham na alma.
Elisabete Macedo T2
Poema de Teresa Guedes
É normal gostar de rosas
É caro oferecer orquídeas
É suave colher liríos,
É original compor um ramo de flores silvestres.
Mas eu só gosto de miosótis:
São pequenos como eu,
Têm a insignificância dos meus olhos azuis,
Mas na sua dimensão minúscula
Tentam atingir a perfeição.
Elisabete Macedo T2
É caro oferecer orquídeas
É suave colher liríos,
É original compor um ramo de flores silvestres.
Mas eu só gosto de miosótis:
São pequenos como eu,
Têm a insignificância dos meus olhos azuis,
Mas na sua dimensão minúscula
Tentam atingir a perfeição.
Elisabete Macedo T2
Poema de Juliana Pedro
Há uma semente estranha
Que germina no debruçar de um olhar apaixonado
Cujas rízes se retraem como um cágado assustado.
Há uma poesia solitária
Que transporta angústias vivas
E navega em mares perdidos
Desejando dormitar
Nas páginas de um livro emprestado.
Há amores dispensados
Contrariados pela ironia de pensamentos
desconjugados que se cruzam num ciclo vicioso
De almas pecadores.
Há vigas suspensas
que balançam em cada projecto executado
alertando a iminência de enlaces breves.
Elisabete Macedo T2
Que germina no debruçar de um olhar apaixonado
Cujas rízes se retraem como um cágado assustado.
Há uma poesia solitária
Que transporta angústias vivas
E navega em mares perdidos
Desejando dormitar
Nas páginas de um livro emprestado.
Há amores dispensados
Contrariados pela ironia de pensamentos
desconjugados que se cruzam num ciclo vicioso
De almas pecadores.
Há vigas suspensas
que balançam em cada projecto executado
alertando a iminência de enlaces breves.
Elisabete Macedo T2
Poema de Luís da Silva Pereira
Ás vezes, pego nas palavras
como num cacho de uvas,
cheio de sonhos e apetite,
a boca toda aberta.
Levanto-as contra o sol
e fico a olhá-las,
pequeninos seios do Outono
prontos para os jogos do amor.
Acaricio-as.
trinco-as nos dentes,
a casca, a polpa,
o amargo da graínha.
Fermentam nos lagares do silêncio,
nas robustas vasilhas da memória.
Depois convido os meus amigos
à embriaguez suave da impressa.
ou de um bom verso,
simplesmente.
Elisabete Macedo T2
como num cacho de uvas,
cheio de sonhos e apetite,
a boca toda aberta.
Levanto-as contra o sol
e fico a olhá-las,
pequeninos seios do Outono
prontos para os jogos do amor.
Acaricio-as.
trinco-as nos dentes,
a casca, a polpa,
o amargo da graínha.
Fermentam nos lagares do silêncio,
nas robustas vasilhas da memória.
Depois convido os meus amigos
à embriaguez suave da impressa.
ou de um bom verso,
simplesmente.
Elisabete Macedo T2
poema de Maria Adelina Vieira
Acordes finíssimos de harpa e violino
envolvem em luz de prata morna e coada
os poucos
que no silêncio escrito por suas mãos vazias
unem o pensamento e nele pronunciam
o nome das coisas inomináveis.
Leveda em cada uma destas mãos assim vazias
hora a hora em constante dedilhar
em forma de labor o pensamento
ou pão ou palavra ou traço ou peça ou massa
ou silêncio ou golpe ou som ou gesto
em sentido em cor em paixão
E só assim o corpo do verbo do longe se torna tão perto
que chega a não ter lugar.
Elisabete Macedo T2
envolvem em luz de prata morna e coada
os poucos
que no silêncio escrito por suas mãos vazias
unem o pensamento e nele pronunciam
o nome das coisas inomináveis.
Leveda em cada uma destas mãos assim vazias
hora a hora em constante dedilhar
em forma de labor o pensamento
ou pão ou palavra ou traço ou peça ou massa
ou silêncio ou golpe ou som ou gesto
em sentido em cor em paixão
E só assim o corpo do verbo do longe se torna tão perto
que chega a não ter lugar.
Elisabete Macedo T2
Um Poema de Maria Adelina Vieira
Ante os espaços ancestrais vazios
e o silêncio inicial do homem
aí ante o nada e o tudo
o sonho na noite escura perscruta
e a clara razão ouvindo descobre
que todas as coisas têm mãe
que tudo gera a tudo dá nome
tudo fecunda
com seios com sexo com ventre
com cabeça com boca com olhos
com mente profunda
com tudo
só não tem nome a mãe das coisas
falhadas no segredo indecifrável do absurdo.
Elisabete Macedo T2
e o silêncio inicial do homem
aí ante o nada e o tudo
o sonho na noite escura perscruta
e a clara razão ouvindo descobre
que todas as coisas têm mãe
que tudo gera a tudo dá nome
tudo fecunda
com seios com sexo com ventre
com cabeça com boca com olhos
com mente profunda
com tudo
só não tem nome a mãe das coisas
falhadas no segredo indecifrável do absurdo.
Elisabete Macedo T2
Um Poema de Fernando Pinheiro
ter alquém
que nos entenda
é bom
mas bem melhor
e ter quem
nos ame
e nos chame
pelo nome
ao ouvido
quando temos
o coração
partido
Elisabete Macedo T2
que nos entenda
é bom
mas bem melhor
e ter quem
nos ame
e nos chame
pelo nome
ao ouvido
quando temos
o coração
partido
Elisabete Macedo T2
sábado, 24 de maio de 2008
Leva-me o rosto, andorinha
Leva-me o rosto, andorinha
e deixa-o pousar lá longe naquela
aldeia sem ruas direitas...
Lá...
onde as sardinheiras e as papoilas
nunca se repetem nas janelas...
Lá...
onde nunca o mesmo ninho aguarda
as mesmas penas
na mesma tarde dos
mesmos beirais
Lá...
onde todo o dia canta uma
ceifeira
... e a lua também tem rosto
Lá...
e deixa-o pousar lá longe naquela
aldeia sem ruas direitas...
Lá...
onde as sardinheiras e as papoilas
nunca se repetem nas janelas...
Lá...
onde nunca o mesmo ninho aguarda
as mesmas penas
na mesma tarde dos
mesmos beirais
Lá...
onde todo o dia canta uma
ceifeira
... e a lua também tem rosto
Lá...
Leva-me os sonhos, Musa
Leva-me a alma, sonho
Leva-me a alma, sonho,
e deixa-a cair lá longe naquela
floresta sem receios
Lá...
onde as árvores e os animais
dividem momentos de tranquilidade
Lá...
onde nunca o Homem transformou
o verde da vegetação
no cinza-castanho da destruição
do coração do mundo...
Lá...
onde toda a noite um som melodioso
embala todos os seres
...e a lua ilumina...
Lá...
Glória Lourenço,1ºgrupo
e deixa-a cair lá longe naquela
floresta sem receios
Lá...
onde as árvores e os animais
dividem momentos de tranquilidade
Lá...
onde nunca o Homem transformou
o verde da vegetação
no cinza-castanho da destruição
do coração do mundo...
Lá...
onde toda a noite um som melodioso
embala todos os seres
...e a lua ilumina...
Lá...
Glória Lourenço,1ºgrupo
Leva-me os braços pombo
Leva-me os braços, pombo
Leva-me os braços, pombo
e deixa-os cair lá longe naquela
aldeia sem rota...
Lá...
Onde há erva agrestes e malmequeres
que nuncase repetemem cada ano.
Lá
Onde nunca a mesma aranha tece
a mesma teia
na mesma pequenez das
mesmas casas.
Lá...
Onde todas as noites cantam os grilos
...e a lua tem imensas asas...
lá...
Teresa Avelina - Turma 1
Leva-me os braços, pombo
e deixa-os cair lá longe naquela
aldeia sem rota...
Lá...
Onde há erva agrestes e malmequeres
que nuncase repetemem cada ano.
Lá
Onde nunca a mesma aranha tece
a mesma teia
na mesma pequenez das
mesmas casas.
Lá...
Onde todas as noites cantam os grilos
...e a lua tem imensas asas...
lá...
Teresa Avelina - Turma 1
Um poema de Luis Costa para nós Mulheres-Professoras
Às exploradas, maltratadas e mal-amadas professoras do meu país
Ainda a noite vai plena
Na celeste imensidão
E lá vai a Madalena
De pasta negra na mão
Leva nos lábios o sol
Ao acordar da manhã
E nos olhos de avelã
Sorriso de girassol
Madalena é professor
aEla ama a profissão
E lá vai a Madalena
Para a escola milagrar
Tem uma larga centena
De centelhas a avivar
Aninha sob o seu manto
Uma secreta ilusão
No imaginoso encanto
De um canto de Gedeão
Madalena é professora
Ela ama a profissão
E Madalena contrasta
Com o resto da multidão
Leva um ventre na pasta
Já gasta na sua mão
Uma réstia de esperança
Que o seu génio pintou
No sonho de uma criança
Que a criança nem sonhou
Madalena é professora
Ela ama a profissão
À tarde vem Madalena
Macerada e insegura
Traz máscara de tristura
No rosto estanhado em pena
Sombrio momo da alma
O belo corpo curvado
A passo descompassado
É grito na tarde calma.
Madalena é professora
Ela ama a profissão
E Madalena lá vai
Dolente e amargurada
Na lenta noite que cai
Na sua vida arrastada
Para casa lá vai ela
De pasta preta na mão
Dar-se mãe fazer-se bela
Donzela de servidão
Madalena é professora
Ela ama a profissão
E quando a lua dormente
Vai vagueando no vão
No trilho do ferro quente
Ela relê diligente
Os versos de Gedeão
E em cada peça passada
Que passa maquinalmente
Vai passando lentamente
A sua alma engelhada
Madalena é professora
Ela ama a profissão
Ainda a noite vai plena
Na celeste imensidão
E lá vai a Madalena
De pasta negra na mão
Leva nos lábios o sol
Ao acordar da manhã
E nos olhos de avelã
Sorriso de girassol
Madalena é professor
aEla ama a profissão
E lá vai a Madalena
Para a escola milagrar
Tem uma larga centena
De centelhas a avivar
Aninha sob o seu manto
Uma secreta ilusão
No imaginoso encanto
De um canto de Gedeão
Madalena é professora
Ela ama a profissão
E Madalena contrasta
Com o resto da multidão
Leva um ventre na pasta
Já gasta na sua mão
Uma réstia de esperança
Que o seu génio pintou
No sonho de uma criança
Que a criança nem sonhou
Madalena é professora
Ela ama a profissão
À tarde vem Madalena
Macerada e insegura
Traz máscara de tristura
No rosto estanhado em pena
Sombrio momo da alma
O belo corpo curvado
A passo descompassado
É grito na tarde calma.
Madalena é professora
Ela ama a profissão
E Madalena lá vai
Dolente e amargurada
Na lenta noite que cai
Na sua vida arrastada
Para casa lá vai ela
De pasta preta na mão
Dar-se mãe fazer-se bela
Donzela de servidão
Madalena é professora
Ela ama a profissão
E quando a lua dormente
Vai vagueando no vão
No trilho do ferro quente
Ela relê diligente
Os versos de Gedeão
E em cada peça passada
Que passa maquinalmente
Vai passando lentamente
A sua alma engelhada
Madalena é professora
Ela ama a profissão
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Tentando versejar
No trilho do mar
Quando olho o mar
Percorro mil caminhos...
Vejo e encontro o azul,
Continuo a viagem
E encontro o verde,
Segue-se o amarelo e o
Vermelho.
O azul, o céu e o infinito.
O verde campestre e o cheiro matinal.
O amarelo e o vermelho do entardecer.
E, mais tarde, o pôr-do-sol.
Viajo, quando olho o mar
E descubro novos caminhos
Até te encontrar.
Teresa Avelina - Turma 1
Quando olho o mar
Percorro mil caminhos...
Vejo e encontro o azul,
Continuo a viagem
E encontro o verde,
Segue-se o amarelo e o
Vermelho.
O azul, o céu e o infinito.
O verde campestre e o cheiro matinal.
O amarelo e o vermelho do entardecer.
E, mais tarde, o pôr-do-sol.
Viajo, quando olho o mar
E descubro novos caminhos
Até te encontrar.
Teresa Avelina - Turma 1
sábado, 17 de maio de 2008
Eugénio - um génio poético nosso
As Amoras
O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país,
talvez nem goste dele,
mas quando um amig0
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade ("O Outro Nome da Terra")
O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país,
talvez nem goste dele,
mas quando um amig0
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade ("O Outro Nome da Terra")
Miguel Torga sempre
QUANTOS SEREMOS?
Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!
Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.
E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste
Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!
Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.
E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste
domingo, 11 de maio de 2008
Para todos os professores,um poema deLuis Costa, publicado no blog de Ramiro Marques
CONDOR
Quando a ventania te fustiga
E a voz do trovão te abalroa;
Quando as vagas te batem na proa
E a tempestade não se mitiga,
Porque temes a fúria inimiga,
Porque te encolhes, professor,
Se possuis nas nervuras da mão
A força bruta de um tufão?
Quando vês a seara ameaçada
Pela pulha praga predadora,
E a tua lide geradora
Se agiganta multiplicada,
Porque choras na eira estragada
Porque te conformas, professor,
Se possuis nas nervuras da mão
A energia que brota do chão?
Quando o labor do teu longo dia
Se confunde com a noite escura,
E a cava voz da conjuntura
Te acusa de ócio e de abulia,
Porque atrofias a rebeldia,
Porque consentes, ó professor,
Se possuis nas nervuras da mão
A seiva da nova geração!
Tu, que trazes cavadas no peito
As fundas chagas da humilhação,
Porque aceitas essa condição?
Porque choras o trilho desfeito
E te anulas num nicho sem preito?
Porque te curvas, ó professor,
Se possuis nas nervuras da mão
O tal respeito que te não dão?
Porque receias, ó professor,
Ser livre e voar como um condor?
Luís Costa
Quando a ventania te fustiga
E a voz do trovão te abalroa;
Quando as vagas te batem na proa
E a tempestade não se mitiga,
Porque temes a fúria inimiga,
Porque te encolhes, professor,
Se possuis nas nervuras da mão
A força bruta de um tufão?
Quando vês a seara ameaçada
Pela pulha praga predadora,
E a tua lide geradora
Se agiganta multiplicada,
Porque choras na eira estragada
Porque te conformas, professor,
Se possuis nas nervuras da mão
A energia que brota do chão?
Quando o labor do teu longo dia
Se confunde com a noite escura,
E a cava voz da conjuntura
Te acusa de ócio e de abulia,
Porque atrofias a rebeldia,
Porque consentes, ó professor,
Se possuis nas nervuras da mão
A seiva da nova geração!
Tu, que trazes cavadas no peito
As fundas chagas da humilhação,
Porque aceitas essa condição?
Porque choras o trilho desfeito
E te anulas num nicho sem preito?
Porque te curvas, ó professor,
Se possuis nas nervuras da mão
O tal respeito que te não dão?
Porque receias, ó professor,
Ser livre e voar como um condor?
Luís Costa
sábado, 10 de maio de 2008
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Sossego para Sophia dado por José Gomes Ferreira
“Leva-me os olhos, gaivota”
Leva-me os olhos, gaivota,
e deixa-os cair lá longe naquela
ilha sem rota…
Lá…
onde os cravos e os jasmins
nunca se repetem nos jardins…
Lá…
onde nunca a mesma aranha tece
a mesma teia
na mesma escuridão das
mesmas casas…
Lá…
onde toda a noite canta uma
sereia
… e a lua tem asas…
Lá…
Vejam as variações de "Leva-me os olhos, gaivota", criadas por Os Violinos Tocam de Madrugada.
Leva-me os olhos, gaivota,
e deixa-os cair lá longe naquela
ilha sem rota…
Lá…
onde os cravos e os jasmins
nunca se repetem nos jardins…
Lá…
onde nunca a mesma aranha tece
a mesma teia
na mesma escuridão das
mesmas casas…
Lá…
onde toda a noite canta uma
sereia
… e a lua tem asas…
Lá…
Vejam as variações de "Leva-me os olhos, gaivota", criadas por Os Violinos Tocam de Madrugada.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Um poema exemplar de Sophia
«Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e existem praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes e não vejo
Nem o crescer do mar nem o mudar das luas.
Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes»
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e existem praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes e não vejo
Nem o crescer do mar nem o mudar das luas.
Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes»
Poema do dia para todos vós
Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar,
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...
Miguel Torga
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar,
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...
Miguel Torga
quarta-feira, 7 de maio de 2008
sábado, 3 de maio de 2008
Sessão 3 - "Letra, palavra", de João Pedro Mésseder
LETRA, PALAVRA
Vasculho no cesto das letras
até encontrar um G.
Continuo a vasculhar
até descobrir um A.
Remexo, remexo, remexo
até encontrar um T.
E lá no fundo de tudo
descubro por fim o O.
Componho então a palavra.
Mas p`ra não ficar sozinha
arranjo-lhe já companhia
formando mais três palavrinhas:
Telhado, Sol, Sardinha.
João Pedro Mésseder
A partir deste poema, fomos "obrigados" a vasculhar no nosso cesto das letras e a encontrar outras letras diferentes das do autor, chegando a uma nova palavra e nova área vocabular expressiva.
Vasculho no cesto das letras
até encontrar um G.
Continuo a vasculhar
até descobrir um A.
Remexo, remexo, remexo
até encontrar um T.
E lá no fundo de tudo
descubro por fim o O.
Componho então a palavra.
Mas p`ra não ficar sozinha
arranjo-lhe já companhia
formando mais três palavrinhas:
Telhado, Sol, Sardinha.
João Pedro Mésseder
A partir deste poema, fomos "obrigados" a vasculhar no nosso cesto das letras e a encontrar outras letras diferentes das do autor, chegando a uma nova palavra e nova área vocabular expressiva.
Etiquetas:
palavra",
Sessão 3 - "Letra
Sessão 2 - Concertos Poéticos
Trouxemos uma selecção temática de poemas sobre: Poesia, Mar e Mãe.
Organizámo-nos em grupos e interligámos os vários poemas de cada tema a nosso bel prazer.
Misturámos os versos dos outros e recriámos um longo poema.
Finalmente, lêmo-los segundo diversas técnicas (leitura individual, coral, dialogada, jogralesca...).
Organizámo-nos em grupos e interligámos os vários poemas de cada tema a nosso bel prazer.
Misturámos os versos dos outros e recriámos um longo poema.
Finalmente, lêmo-los segundo diversas técnicas (leitura individual, coral, dialogada, jogralesca...).
Etiquetas:
Sessão 2 - Concerto Poético: Poesia
Sessão 1 - O Sabor das Palavras
1. Recebeu um bombom?
Desembrulhe-o, não o coma, escreva no papel que o embrulha a palavra que de repente lhe veio à cabeça com sentido e volte-o a embrulhar no mesmo papel (que agora tem uma palavra escrita).
2. Devolva o bombom para que seja trocado e de novo distribuído aleatoriamente.
3. Recebeu de novo outro bombom?
Desembrulhe-o e delicie-se com ele. É bom!
No papel que o embrulhava há uma palavra escrita? É bonita?
Que lhe diz essa palavra? É quente ou é fria?
É doce ou agressiva? .......
4. Tome a palavra e tome-lhe também o sabor ...
Construa com ela um verso, ou se quiser mesmo um poema breve.
5. Registe agora as palavras de todo o grupo.
6. Com estas palavras todas construa o texto que entender.
Desembrulhe-o, não o coma, escreva no papel que o embrulha a palavra que de repente lhe veio à cabeça com sentido e volte-o a embrulhar no mesmo papel (que agora tem uma palavra escrita).
2. Devolva o bombom para que seja trocado e de novo distribuído aleatoriamente.
3. Recebeu de novo outro bombom?
Desembrulhe-o e delicie-se com ele. É bom!
No papel que o embrulhava há uma palavra escrita? É bonita?
Que lhe diz essa palavra? É quente ou é fria?
É doce ou agressiva? .......
4. Tome a palavra e tome-lhe também o sabor ...
Construa com ela um verso, ou se quiser mesmo um poema breve.
5. Registe agora as palavras de todo o grupo.
6. Com estas palavras todas construa o texto que entender.
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