É tão vazia a nossa vida
É tão inútil a nossa vida
Que a gente veste de escuro
como se andasse de luto.
Ao menos se alguém morresse
e esse alguém fosse um de nós
e esse um de nós fosse eu...
O sol andando lá fora
Fazendo lume nos vidros
Chegando carros ao largo
com gente que vem de fora
(quem será que vem de fora?)
E a gente p'raqui fechados
na penumbra das paredes
Curvados prássecretárias
Fazendo letra bonita
Fazendo letra bonita
E o vento andando lá fora
Trazendo um grito da rua
(Quem seria que gritou?)
E a gente p'raqui fechados
na penumbra das paredes
curvados p'ras secretárias
fazendo letra bonita
Enchendo impressos, impressos,
livros, livros, folhas soltas,
carimbando, pondo selos,
bocejando, bocejando,
bochejando...
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7 comentários:
É tão maravilhosa a nossa existência
É tão fascinante o nosso quotidiano
Que vamos para a escola
Como se fôssemos fadistas.
E se ao menos alguém nos ouvisse
E esse alguém fosse os nossos alunos
E esse alguém os nossos governantes…
Saindo das nossas casas
Envolvidos pelo Sol
Ao volante das nossas “máquinas”
Será que chegamos a horas?
Claro que sim!
(A escola é mesmo ali ao lado!)
Sem janelas,
O Sol enche os nossos corações de luz.
Uma sinfonia invade a sala
À chamada dos alunos
A aula começa ao ritmo da Preguiça.
Tudo está ausente, excepto a distracção.
Meigamente pedimos atenção,
E eles, compreensivos, nada ouvem, nada dão.
E nós, continuamos a marcar passo.
Até que…
Surge o som, por eles, ansiosamente esperado.
Ecoando, ecoando, ecoando…
Se vão afastando…
Turma 1,
Ana Mendes
Isaltina Marques
Teresa Coelho
Teresa Lopes
Rui Gonçalves
CORO DOS PROFESSORES RESISTENTES
É tão cheia a nossa vida
É tão útil a nossa vida.
Que a gente vestiu de escuro
Como se de luto andasse
Naquele oito de Março
Tentando derrubar o muro
À espera que algo mudasse.
É tão cheia a nossa vida
É tão útil a nossa vida.
O sol andando lá fora
Fazendo lume nos vidros
E nós cá dentro à nora
Com relatórios, fichas e livros.
(do que será que se irão lembrar agora?)
É tão cheia a nossa vida
É tão útil a nossa vida.
E a gente p’raqui fechados
Na penumbra das escolas
Vivendo sob tensão
Remoendo constantemente
Na malfadada avaliação.
É tão cheia a nossa vida
É tão útil a nossa vida.
E o vento andando lá fora
Rumorejando nas árvores
Levando esperanças
No futuro deste país
(Quem se quer juntar a nós?)
É tão cheia a nossa vida
É tão útil a nossa vida.
E a gente p’raqui fechados
Na penumbra das escolas
Curvados p’rás secretárias
Preenchendo cadernetas,
Escrevinhando relatórios
Telefonando, pondo selos
Lutando, lutando,
Lutando.
Assunção, Cristina, Felicidade e Margarida: T2
Coro dos Professores burocratas
São tão banais os nossos dias
Tão tristes e surreais
Que a gente anda cabisbaixo
Como se a vida nos maltratasse.
Se ao menos passássemos pela vida
E não fosse ela a passar por nós
E, ao passarmos por ela,
Deixássemos aqui algo de nós…
O funcionário público,
Atrás do seu balcão
Fita e refita o relógio:
“São cinco. Está na hora!”
E a gente continua
(O dia ainda é criança!...)
A toque de caixa
Lá vamos nós.
Trrim! … Trrim!...
A reunião começou
Sem consenso, se atardou.
Trrim! … Trrim!...
O pai, a mãe, a avó
Todos se apressam a opinar.
Falam de tudo…e de nada.
O menino tem dislexia,
O menino tem apatia,
O menino tem azia.
Mas que monotonia!
A mãe bate no pai
O pai bebe, coitado!
O filho, já sem remédio,
Precisa é de ser açoitado.
Tudo serve. Tudo vale.
E a gente ouve, ouve…
Que desespero…
Safa!
Trrim! … Trrim!...
E os filhos da gente
Em casa…
Aguardam…
(Bocejo)
Desesperam…
(Bocejo)
Adormecem…!
Já podemos ir pra casa?
Temos autorização?
Ou temos ainda de preencher
Papéis, papeladas, em vão?
Lá fora, a noite chega.
E a gente, aqui cerrada,
Imerge em documentação.
Assina aqui.
Rubrica acolá.
Alto! Assim, já não dá!
A gente quer é ser professor
E trabalhar, sem dor
Sem rancor…
Não quer ser sofredor!
Basta!
A nossa arte é ensinar:
Nas crianças, a sabedoria despertar!
Tudo o resto
(Papéis, papelinhos, papelotes!)
Que se dane! Pouco importa,
Perante a grandeza da vida.
Basta!
Porque esta nossa viagem,
Sem prazer, sem paixão,
Não tem volta.
É um bilhete só de ida
Apenas vida sofrida…
Adélia Silva, Cândida Passos, Elizabete Cerqueira, Manuela Gama, Paula Abreu – T 2
Coro dos Professores desiludidos
É tão stressante a nossa vida
É tão frustrante a nossa vida
Que a gente termina o dia
Sem ter uma mais valia
Ao menos se alguém me ouvisse
E esse alguém fosse um aluno
E esse aluno fosse meu…
O sol brilhando lá fora
A chamar-nos a toda a hora
Entrando pelos nossos vidros…
E nós aqui acorrentados
Tentando quebrar as amarras
Dos desinteressados
Dando voltas pela sala
Fazendo da poesia uma arte engraçada
E a vida passando de fora
E os dias correndo e até a hora…
E a gente p’raqui afrontados:
“ A aula que nunca mais passa.
Ó stora: o que quer que se faça?”
E a gente p’raqui desesperados
P’rós nossos alunos curvados
Pensando, inventando, recriando
E eles bocejando, bocejando, bocejando
Com os dedos debaixo da mesa
Vão teclando, vão teclando, vão teclando!
Turma 1
Rosa Fernandes
Clara Dias
João Lagarelhos
Cristina Araújo
António Soares
Coro dos Professores Contentes
É tão boa a nossa vida
É tão cheia de ociosidade
Que a gente veste garrido
Como se andasse em festa
Ao menos se alguém se reformasse
E esse alguém fosse um de nós
E esse um de nós fosse eu…
O sol brilha nas salas
Fazendo luz nas alminhas
Chegando decretos ao largo
Com ideias interessantes
(Quem será tão bom pensante?)
E a gente p’raqui amados
No aconchego das paredes
Curtindo as secretárias
Ensinando coisas bonitas.
Ensinando coisas bonitas
E os alunos com a cabeça lá fora
Imaginando-se nas árvores
Viajando nas nuvens pelo céu
Trazendo gritos da rua
(Qual será que gritou?)
E a gente p’raqui amados
No aconchego das paredes
Curtindo as secretárias
Ensinando coisas bonitas
Fazendo relatórios, correcções
Actas, testes, avaliações
Lendo convocatórias, assistindo a reuniões
E sonhando, sonhando
Sonhando
Que…
Ao menos se alguém se reformasse
E esse alguém fosse um de nós
E esse um de nós fosse eu…
Elisabete Macedo
Maria Alice Rodrigues
Maria José Cunha
Turma 2
Coro dos Moralistas
É tão limpa a nossa vida
Tão honesta e divertida
A gente veste a rigor
E a nossa pureza é o nosso odor
Ao menos se alguém sofresse
E se um de nós se perdesse
e se esse um fosses… Tu!!!
As pessoas penando lá fora
Fazendo lume, manifestações
Esse pobre povo que chora
Só porque não tem condições?
(Quem será que protestou?)
E nós aqui protegidos
Pelos decretos por nós redigidos
Sem privações, sem maldições,
preparados para as nossas reinações,
Discursando, discursando, discursando…
O vento trazendo aumentos
E que culpa temos destes tormentos?
Aumento do salário congelado?
Diz-lhes que o défice está controlado.
(Quem será que protestou?)
E nós aqui fechados
Na nossa redoma enclausurados
Sem crise, sem qualquer privação
Privação? Pura ilusão
Iludindo, iludindo, iludindo.
Carlos Oliveira, Paula Gomes, Paula Prata, Sílvia Carvalho
Turma 2
CORO DAS "GORDINHAS DESPERADAS"
É tão redonda a nossa vida
É tão cheínha a nossa vida
Que a gente veste de escuro
Como se andasse elegante.
Ao menos se o chocolate não engordasse e fosse verdadeirament light...
As misses ondulando na praia
Fazendo inveja à própria sombra
Ouvindo assobios lascivos
Dos seres que a areia povoam...
(O que é que elas não têm que eu tenha?!)
E a gente p'raqui fechadas
Na penumbra dos consultórios,
dos gabinetes do diétista, das massagens e da estéticista
Fazendo step, fazendo cárdio
Fazendo step, fazendo cárdio
E a fome andando cá dentro
Rumorejando no estômago
Levando o ânimo ao desânimo
Trazendo um grito profundo
(Maldita herança genética que tudo reténs em mim!)
Fazendo step, fazendo cárdio
Fazendo step, fazendo cárdio
Comendo sopa, comendo sopa
Alface, bolachinhas integrais e yogurtes naturais...
Contando as calorias...
Engordando, engordando,
Engordando...
Ana Paula Soares, Alexandra Sobral, Carla Coelho, Carla Nóvoas,Luísa Coelho ( T2) Paula Correia (T1)
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