Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci: olha,em relevo,
Estes sinais em mim,não das carícias
(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos,são lembranças
da vida a teu menino, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.
A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir,quando dizias
" Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.
é quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.
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CARTA
Há muito tempo, sim, que não te escrevo. Têm passado meses sem que viva, e vou durando nesta existência amarga e fria, numa estagnação íntima de pensar e de sentir.
Há muito tempo, sim, que não te escrevo, porque nem sequer existo. Creio que mal sonho. Os dias são noites para mim, frios e escuros como breu. O desânimo de mim se apoderou, por isso jamais almejo o Céu.
Há muito tempo que não existo. Estou sossegadíssima. Ninguém me distingue de quem sou. Senti-me agora respirar como se houvesse praticado uma coisa nova, ou atrasada. Começo a ter consciência de ter consciência. Talvez amanhã desperte para mim mesma, e reate o curso da minha existência própria. Não sei se, com isso, serei mais feliz ou menos. Não sei nada. Ergo a cabeça de passeante e vejo que, sobre a encosta do Bom-Jesus, o poente oposto arde em dezenas de janelas, cujas chamas virtuais, sem o calor das reais, não aconchegam as almas singelas. À roda desses olhos de chama dura toda a encosta é suave do fim do dia. Posso ao menos sentir-me triste, e ter a consciência de que, com esta minha tristeza se cruzou agora – visto com ouvido – o som dolorido da carroça que passa, a voz casual dos conversadores, o sussurro esquecido da cidade viva.
Há muito tempo que não sou eu.
Agora que resolvi escrever-te, será que lembrar-me de ti me fará sair desta letargia? Será uma fase? Um sonho? Um pesadelo? Não sei. Não adivinho o resto dos meus dias.
Será que tenho ainda o direito à esperança? Será que a vida está ao meu alcance, ou será uma miragem?
Maria de Jesus Sarmento Manso
Turma 1
Carta
Há muito tempo, sim, que não te escrevo, há muitos meses que não nos vemos. Quisera eu que estivéssemos amuados, mas não. Uma força superior e inquestionável nos apartou. De todos os anos que rimos juntos, ficou esta imensa e tremendamente irresolúvel saudade. Saudade do sorriso condescendente, da gargalhada desmedida, da tolerância alargada, da paciência imensurável, do cumprimento único, irrecuperável, insubstituível… Esta sensação de perda que ninguém compreende, de tristeza pelo que fiz e angústia pelo que não disse são golpes,são espinhos, são lembranças que perduram, que não abrandam, que consomem…
Curiosamene, nada disto se manifesta em lágrimas de revolta nem de sofrimento.
A vida continua e tu permaneces no meu pensamento, na minha pele, na minha alma como uma sombra de luz.
Prometo, hei-de escrever-te mais vezes…
Turma1,
Ana Mendes
A carta
Meu destinatário oculto,
Quando, ao despertar, revejo a um canto,
a noite acumulada de meus dias,
mentalizo-me para mim mesma:
Não vale a pena pensar muito…
Sabes, meu destinatário oculto?
Cheguei à conclusão,
Que não vale a pena…
queimar os meus neurónios,
já bastante cansados,
apesar da idade, ainda tenra.
Não vale a pena…
Fazer sofrer o meu pobre coração,
pelo golo da nossa selecção.
Não vale a pena…
Fugir do que não se gosta,
Porque somos sempre apanhados.
Lês, o meu pensamento,
meu destinatário oculto?
Lês, que não vale a pena
pensar muito…
Quando, ao despertar, revejo a um canto,
a noite acumulada de meus dias,
descarrego as minhas coisas más para o lixo.
E a minha mente fica aliviada,
Mas só por um minuto,
Mas só por um nada,
porque as obrigações, os deveres
e as responsabilidades vêm ao de cima.
E o alívio sente-se inferior e deixa-se vencer,
pelas obrigações, pelos deveres,
pelas responsabilidades.
Sabes, meu destinatário oculto,
não vale a pena pensar muito…
Vale a pena é viver,
conforme a vida nos permite.
Acreditas no destino?
Para mim, a vida depende do destino
E o destino depende da vida.
A vida e o destino fundem-se num só.
Como sempre disse:
Não vale a pena pensar muito,
meu destinatário oculto.
Até mais ver…
Se a vida assim o quiser.
Cândida Passos T2
Carta
Há muito tempo, sim que não te escrevo.
Há muito tempo? Não! Minutos de vento
nos separam os sorrisos e não é cedo
para que eu diga: “Há muito tempo…”.
Há muito tempo, sim, que não me vês
O tempo é uma barreira intransponível….
O que nos separa é o que em mim não lês…
Meu silêncio é na tua surdez dedutível.
A falta que me fazes não é tanto
À hora dos alvores, quando
se constroem esperanças…
É mesmo à hora dos cansaços,
quando as carícias tombam
e se perpetuam em ébrias lembranças.
Paula Gomes Turma 2
Carta
Há quanto tempo não te vejo! Sim, há muito tempo!
Recordo, saudosa, aquela noite em que, juntos, abraçados no estreito sofá, enquanto me fazias carícias no rosto, sussurrámos breves palavras soltas : “É a minha forma de gostar de ti”(….) “Este talvez seja o melhor momento da minha semana” (…)“Da próxima vez,… “ (…) (…)
Não houve próxima vez.
Hoje, estas são as minhas lembranças. São espinhos que o tempo suavizou. A falta que me fazes não é tanto à hora de dormir, é à hora de alguém me ouvir e ver-te olhar-me, meigamente, e sorrir…
Eu mesma envelheci!
Percorro silenciosamente os cantos daquela casa à procura desse olhar profundo. Quem sabe! Talvez um dia a gente se encontre, algures, num outro mundo…
Percorro, silenciosa, os recantos da mesma casa à procura desse olhar penetrante, e recordo, nostálgica , esse último e eterno instante.
Turma 1
Clara Dias
Carta
Quando, ao despertar, revejo a um canto a noite acumulada de meus dias, sei que passou muito tempo desde que foste embora.
Foi duro ficar sem ti, saber que nunca mais te ia ver, nunca mais te ia ouvir, que nunca mais, nunca mais, nunca mais…
Senti que tudo perdi, até mesmo o futuro. Nenhum sonho, nenhum projecto fazia sentido na tua ausência.
Procurei-te anos a fio no rosto de outros, fixando-lhes o olhar, espiando-lhes as expressões, mas não… Nem eram parecidos contigo, por vezes era só um ar…
Passou tanto tempo e ainda dói tanto.
Quando a memória me traz o eco da tua voz, a lembrança do teu sorriso e dos teus olhos, ficas tão real, tão perto de mim outra vez. Tão perto e infinitamente longe…
Tenho tantas saudades!
Maria Alice Rodrigues
Turma 2
Carta
Acorda! Vá lá, já é dia.
Vá lá, dorminhoca!
Vem ver Setembro, lá fora.
O céu está tão lindo!
Não? Não te apetece?
Os anos pesam-te. Eu sei.
Queres preguiçar um pouco mais…
Há muito tempo, sim, que partiste.
Sem ruído, sem dor, sem aviso.
Nada. Partiste. Tão só…
Partiste, para nunca mais voltar.
Partiste discreta, tal como planeavas.
O sol brilhava, tal como almejavas.
— Ai! Que cansaço!
Segredavas-me, suspirando.
E, eu, naquela madrugada, não adivinhei.
Imaginava-te dormindo, sonhando…
E que linda que tu estavas,
No teu leito frio. Em paz.
Sem ruído, sem dor.
Apenas um breve sorriso…
Hoje, a falta que me fazes não é tanto
Quando, abrigada no teu colo,
Me sussurravas “ Dorme, pequenina.
Não tenhas medo da noite. Eu estou aqui.”
É sempre que, ao folhear o álbum das memórias,
Te sinto ausente. Distante.
E sei que, desta vez, é para sempre.
Fazes-me falta Avó.
Elizabete Cerqueira – T 2
CARTA
Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Mãe, não vale a pena,
Já foram muitas palavras ditas,
E as atitudes não mudam.
Tu nunca me disseste
“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.
Assim como nunca me alentavas “menina a vida vai ser linda”
Nada disto podia ser, porque não me criaste
Muito me deste de negação e revolta.
Eu nasci quando eras menina e tu não querias,
Mas mais menina era eu.
Há muito tempo, sim, que não te escrevo, e que não me dizes
“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.
Porque tudo está dito,
Mais serenas e tranquilas
Serão as duas vidas,
Desconhecidas e separadas.
Eu vivo bem.
Manuela Gama
Há muito tempo, sim
Que não te escrevo.
Nada tenho dito.
O tempo passa, passa...
E de repente ...
Lembro-me das nossas remotas vivências.
Um dia, perdidas naquelas
imensas e grandiosas avenidas
preenchidas de mil cores,
deparámos com vocábulos lusos.
A saudade invade-nos!
O passado preenche a minha memória.
O presente é repleto de nostalgia.
A minha alma estende o olhar ansioso por esse mundo que ainda pertenço.
Mas, a minha Pátria é onde o vento passa e talvez o meu sonho, dentro de um navio,
onde tudo estará perfeito,
um dia as minhas mãos entrelaçarão as tuas!
Adélia Silva
Turma 2
CARTA
Há muito tempo, sim, que não te escrevo. As horas passam a correr, os dias fogem a sete pés, os anos começam a pesar nas minhas costas.
Sinto que estou viva e que não sonho! Há algo em mim que se alterou. Sinto que vivo nas trevas, a fonte da minha imaginação secou. A luz do meu olhar já não tem a mesma intensidade, para mim o mundo perdeu a cor.
Hoje recordo, mas já não consigo sentir, a brisa fresca e leve que ondeava os meus cabelos e levantava o meu vestido, sem nunca me roubar a inocência!
Enfrento cada noite solitária carpindo a minha demência.
Vem! …vem salvar-me deste árido e despovoado deserto em que não vivo, sobrevivo.
Ensina-me a viver!
T-1
Adelaide Silva
Carta
Esta é a primeira vez que te escrevo. Faço-o por tudo aquilo que és e para o dia em que souberes ler e puderes comprender o significado daquilo que te digo hoje.
Tu és o que dá sentido a tudo; todas as emoções, todos os medos, todos os actos de coragem, toda a esperança, …todo o amor! Contigo, permanentemente, a minha “taça transborda” e todas as preocupações se reduzem a nada.
Quando, ao despertar, tu sorris, eu sinto que estou viva, e que é por ti, meu filho, que sonho.
Felicidade Santos T2
CARTA
Há muito tempo, sim, que não te escrevo. O mundo gira, a vida continua na sua montanha russa de emoções e eu sempre sem tempo. Gostaria de parar, ouvir a melodia do mar, quando acaricia a praia, sentir a leve brisa beijar-me de mansinho e deixar-me levar pela alegria da recordação.
A saudade intensifica-se, devora e mesmo estando perto, tu estás longe e o coração aperta de tal forma, que parece desfazer-se em milhares de átomos, tal como a areia que absorve a límpida água do mar.
Por vezes gostaria que o mundo parasse, que a distância não existisse e tudo fosse um mar de carinho e de ternura. Todavia a realidade é diferente, o perpétuo ondular da vida separa-nos e espero ansiosa que nos volte a juntar.
Há muito tempo, sim, que não te escrevo através de uma simples folha de papel, mas escrevo-te todos os dias com a caneta da emoção, nas muitas páginas do meu coração!
Ana Soares T2
AVÓ-Mãe Maria
Há muito tempo, sim, que não te escrevo
Ficaram velhas todas as recordações
Mas hoje, mais uma vez,
Senti a tua doçura
no olhar do meu pai
E tu, avó
Ficarás eternamente
Agarrada à vida
Em mim
No meu sonho
Infantil
Não cansarei de lembrar
As tuas histórias…
No teu colo
O tempo era infinito
O calor sobrava
O sol
Demorava a repousar
Permanecerás!
Irmã dos sonhos
E das lendas de encantar!
Um beijo te levem as estrelas
A tua neta
Zézinha
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